Ele estava
perdido ao olhar aquela folha de papel enquanto se sentava em frente à
escrivaninha. As coisas que ele vivenciou ainda estavam frescas em sua cabeça,
mas mesmo com o lápis na mão, faltava-lhe concentração para colocar tudo em
ordem naquela carta. Mesmo com a tênue luz da escrivaninha, ainda conseguia ver
um pouco do seu pálido reflexo no espelho do banheiro ao olhar pro lado. Tantas
coisas aconteceram. Tantos anos se passaram. Não se continha com seu reflexo e balançava
a cabeça em claro sinal de negação e arrependimento pelas atitudes que não
foram tomadas e pelas palavras que jamais saíram de sua boca quando ele achou
que fosse necessário. Quantas vezes ele desejou que fosse um sonho, daqueles
ruins, que a gente quer esquecer assim que acorda assustado e com o coração querendo
sair do peito. Mas tanto tempo se passara. E apesar de todos esses anos e a
distância, o que restava em sua cabeça eram as memórias dos momentos mais
importantes que foram vividos, mesmo que aquele rosto angelical já não esteja
mais definido em sua mente e era tão branco quanto aquele papel que olhava, os
sentimentos fortes que ainda sentia tornavam a pessoa por inteira tão linda
quanto uma aurora boreal. Ele percebia seu próprio sorriso naquele momento,
como se essas lembranças agitassem seu interior, dando-lhe energia e fôlego de
espírito. Precisava pôr tudo no papel. Precisava aproveitar essa oportunidade –
depois de anos sem saber onde aquela pessoa adorável estava, o que fazia da
vida, que rumos tomara. Era uma noite fria de sábado e sob aquela gélida e
suave brisa que entrava pela janela, começava a escrever suas primeiras
palavras.
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