terça-feira, 4 de maio de 2010

Sonho Inconveniente

O vendedor poderia colocar tudo a perder se dissesse "não" ao bandido, mas era experiente o suficiente pra tomar a decisão certa. É a terceira vez no mês que o seu mercado é assaltado, tão rotineiro, comum, que às vezes pensa até em preparar um cafezinho quente e algumas torradas para receber os bandidos, que inevitavelmente aparecem. Após tirar toda quantia exigida pelos encapuzados (sim, a bandidagem também tem sua logística), lhes entregou calmamente, torcendo para que apareça algum policial na porta. Ora, a polícia estava ocupada demais fumando na delegacia enquanto assistia ao jogo de Flamengo versus Corinthians. A lei era feita pelo bom senso das pessoas de não reagir, porque se tentar fazer algo ou sequer dizer alguma coisa depois às autoridades, os mandachuvas das gangues dão um jeito de calar a boca da pessoa depois de fazê-lo. E isso implica em contas com funerária, e muita terra cobrindo quem foi o imbecil.
Vila Alegre é o setor mais violento de Libernópolis, cidade do interior de Goiás. O prefeito de Libernópolis vive da politicagem fajuta, caixa dois com muito desvio de verba pública, que seria destinada a construções de espaços para lazer e educação. Conservador, extremista, tem costume de sair na cidade com uma Toyota Hilux e um grande chapéu branco na cabeça, acompanhado de seus assessores, alguns vereadores bajuladores e muita, muita falta de vergonha na cara. Assim é Libernópolis, uma cidade que nem sabe o sentido da palavra especial, um espelho que reflete o que muitos veem noutros lugares. Um lugar que, as pessoas vivem dia após dia para conseguirem se alimentar, e só. Um lugar que, como qualquer outro, deseja que aquele sol no final de semana seja contemplado com a mesma tranquilidade e conforto que alguém de classe superior. Sou libernopolino, nossa sociedade é divida por castas (ou hierarquia), e cada casta contempla de sua forma o mundo, e todas elas têm medo de onde isso tudo vai parar. Vamos todos pro inferno...